quinta-feira, 18 de junho de 2009

Incêndio na Cozinha

Era uma bela tarde de sábado em janeiro de 2007. Eu estava na casa de meu namorado (atual ex) lá em Interlagos e, óbviamente, meus filhos estavam em casa lá em Tucuruvi, extremo oposto da cidade. Depois de uma semana trabalhando duro na Prefeitura, nada melhor do que dormir até o meio dia, concordam? Foi mais ou menos nessa hora que eu acordei. Tomei um vasto café da manhã (meio dia...hehehehe... manhã?), regado a yogurt, pães, queijos, mamão, capuccino e etc. Estava atolada no sofá assistindo a uma programação sem graça na tv tentando tomar coragem para um bom banho. Fiquei nessa inércia por mais ou menos umas duas horas e eis que o telefone toca. Era meu filho Lucas querendo falar comigo. Atendi já um tanto irritada, afinal eu estava de folga e merecia meu dia de total insensibilidade física, psíquica, emocional e mental! De qualquer forma o instinto de mãe fala mais alto nessas horas e eu pacientemente atendi ao pimpolho docemente:
  • Fala saco!
  • Oi mãe. Tudo Bem?
  • Tudo, que foi?
  • É que aconteceu uma merda aqui em casa....
  • Merda? .... que merda? (comecei a soltar a imaginação, afinal merda é igual a despesa.
Primeiro, pensei que poderia ter quebrado o computador, pois Lucas e computador fazem um casamento perfeito. Segundo, imaginei que fosse a televisão, pois quando o computador não está presente, a televisão é que padece. Minha terceira e última opção, seria a cama que poderia ter quebrado, pois quando o computador e a televisão estão inviáveis, a cama é aceitável).
  • ..... (silêncio)....
  • Lucaaaassss... fala. Que merda?
  • Mãe, foi realmente uma grande merda....
  • Computador?
  • Não
  • Televisão?
  • Não
  • QUE FOI, SACO?!
  • ..... é que a cozinha pegou fogo...
  • O QUE????? (risos....)
  • é mãe, a cozinha pegou fogo!
  • (risos) Tá, to morrendo de rir. Fala logo, inferno!
  • é sério mãe.... eu fui fritar batatas e dormi. Quando acordei a merda já tava feita.
  • ....... (risos cessando)..........(silêncio)...............(repiração começa a acelerar).... é sério?
  • é.
  • ........(frio gélido começando a subir pela espinha).......
  • mãe?.........
  • quê?
  • tudo bem?
  • ...................(início do pânico).... você tá zoando né?
  • não mãe!
  • ..............(silêncio)..........................
  • mããããeeeeeeee..................
  • .....................fala.
  • ......................tudo bem?
  • .................Jesus! ..................Lucas, não brinca comigo!
  • É verdade mãe (quase chorando).
  • ...................TO INDO PRAÍ! (quase chorando).
Fiquei alguns segundos em estado literalmente catatônico. Desliguei o telefônico e por mais que o Edu (meu ex) perguntasse o que havia acontecido, eu continuava muda! De repente encarnei novamente em meu corpo e num pulo retornei a ligação para meu filho:
  • Lucas!
  • oi....
  • Você tá bem? Se queimou? Se machucou? E a asma? Tá respirando bem? E o Tiago? Como ele está? Se queimou? Chamou bombeiros? Qual foi o estrago? FALA CRISTO!!!!
  • Agora já tá tudo bem, mas eu queimei um pouco a mão...
  • A MÃO? (imaginação à solta novamente!!! Pensei numa mão totalmente carbonizada.... preta! Já via a mão de meu filho pegando fogo e ele correndo para o banheiro e enfiando-a no vaso sanitário para extinguir o fogo!!!)
  • É mãe... mas não foi nada grave!!!
  • COMO VOCÊ PODE SABER SE NÃO FOI GRAVE???? HEIN???ESTOU INDO PARA AÍ!
Desliguei, levantei, comecei a me trocar e em dois segundos eu já estava no meu carro. A essa altura acho que mencionei algo para o Edu sobre o que havia acontecido. Quando uma pisciana está nervosa, a pior coisa a ser dizer é: "Fica calma!". Foi o que ele disse e quase ocorreu um rompimento na hora. Depois ele se ofereceu para dirigir. Meu olhar frio e calculista o fulminou nessa hora e acho que ele entendeu que a resposta era "NÃO"! Meu FIESTA 1.0, ano 2000, branco, nunca correu tanto como naquele dia. Uma fFerrari ficaria com vergonha! Todas as infrações de trânsito que eu pudesse transgredir eu transgredi! Milagrosamente não recebi nenhuma multa, mas acho que eu passei tão rápido pelos radares que não tiveram tempo de fotografar. Os carros eram apenas vultos e eu os costurava com uma agilidade de ninja. A medida que eu avançava, o Edu encolhia em seu banco. Imaginei que, se continuasse nessa proporção, provavelmente ele estaria com 3,5cm de altura quando chegássemos em Tucuruvi. Não entendi o pãnico dele afinal eu não cheguei a mais de 160km por hora. Um trajeto que eu faço em aproximadamente 40 ou 45 minutos, eu fiz em 20. Chegando em casa pude ver uma leve fumacinha saindo do vitrô da lavanderia. Meu coração estava aos pulos!!!Quando entrei no prédio pude sentir o cheiro de queimado! E pensar que aquele cheiro era proveniente de minha cozinha que deixei brilhando na sexta feira. Quando desci no hall, tudo estava cinza! Vestígios de fuligem em todos os cantos. Nessa hora eu pensei se realmente eu queria entrar no meu ap. Respirei fundo e entrei. O que eu vi não consigo traduzir em palavras! O rosto do Lucas estava coberto de fuligem, aliás, ele devia de ter fuligem até no "fiofó"... seria cômico se não fosse trágico! A cozinha, parcialmente carbonizada! O exaustor, em cima do fogão, ficou parecendo um monte de ferro retorcido. A porta de vidro da lavanderia trincou. O varal da lavanderia, derreteu! O teto estava negro. As paredes da sala estavam negras. As roupas que estavam no varal limpinhas, agora tinham uma camada de fuligem por cima! Os azulejos da pia soltaram com o calor. As portas dos armários ficaram carbonizadas. O fogão estava irreconhecível. Depois de uma passada de olho por toda aquela calamidade foi que me lembrei da mão do Lucas. Na verdade a queimadura não foi grande, aliás foi pequena o suficiente para ele não aprender a fritar batatas, pois uma semana depois ele quebrou as regras e fritou novamente, só que dessa vez ele não dormiu! Tenho que admitir que meu ex nos ajudou muito na época, pois o susto me impediu de tomar decisões. Fiquei com aquela cara de "aonde estou e quem sou eu" durante todo o dia. Eu respondia mecânicamente com a cabeça sempre que alguém me perguntava algo, "sim" ou "não", nada além disso! Minha única iniciativa foi sentar, pensar e tentar fazer o possível para não me suicidar. Até hoje, quase dois anos e meio depois, existem marcas no apartamento do incêndio! Estou tentando pintar as paredes mas nunca sobra dinheiro. O Lucas, nesse meio tempo, conseguiu arrumar as portas dos armários, o que já melhorou bastante o visual, mas ainda falta muito para ficar do jeito que eu a havia deixado naquela sexta feira de janeiro de 2007. O que aprendemos com isso?
  1. Nunca fritar batatinhas sem a presença da mãe. (regra quebrada)
  2. Deus protege os desesperados, pois não fui multada e nem bati o carro.
  3. Uma pizza nessas horas é extremamente benvinda.
  4. Espancar um filho só faz você machucar suas mãos, então tente ser compreensiva. (sei que é difícil, mas vale a pena!)
  5. Uma tomada, um fio, um spot e um soquete novos são extremamente baratos.
  6. Cinco sessões de psicanálise são extremamente caras!
  7. Calmantes são tentadores, mas se conseguir ficar sem, é bem melhor!
  8. Chorar por três dias consecutivos, só vai deixar você com olheiras profundas.
  9. Um pote de 2 litros de sorvete de chocolate é absolutamente saudável em momentos de stress.
Consequentemente o melhor é tentar acreditar que, assim como os raios não caem duas vezes no mesmo lugar, um incêndio também não deve ocorrer duas vezes no mesmo ap., mas, se isso acontecer a minha sugestão é: ARRUME UMA BOA BENZEDEIRA, OU MANDE SEU FILHO FICAR UNS DIAS NA CASA DO PAI, DE PREFERÊNCIA UNS 6 MESES!!!!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pensamento

"Nada termina até o momento em que se deixa de tentar."
E, como diz minha mãe, Dna. Odila: "Se não deu certo, é porque ainda não terminou!"
Beijos mil!!!