quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Novo e Velho

Quando eu era pequena, lembro-me que as passagens de ano aconteciam na casa de minha avó acompanhada de todos os familiares mais próximos como meus tios, primos e bisavós. Era uma grande festa que reunia uma grande quantidade de parentes na despedida do "Ano Velho" para a chegada do "Ano Novo". Nos segundos que antecediam a chegada no "Ano Novo", minha bisavó aprontava um verdadeiro rebuliço! Abria a porta da frente da casa e saía gritando: "Vem Ano Novooo! Entra! Seja Bem vindo!" ao mesmo tempo que corria abrindo a porta dos fundos com outra gritaria: "Vai embora Ano velho! Seu tempo acabou! Vai embora!!" e assim sucessivamente até alguns minutos depois na meia noite quando finalmente fechava a porta dos fundos e dizia: "Pronto! Agora que o Ano Velho foi embora, a gente fica com o Ano Novo!". Lembro que na minha mente de uma criança de 4 anos, o "senhor Ano Velho" e o "senhor Ano Novo" estavam personificados na imagem de anjos ou espíritos que, de alguma forma, faziam parte de nossas vidas durante um ano inteiro e me causava uma tristeza imensa ver o "senhor Ano Velho" ser enxotado de casa como se ele não prestasse para mais nada. Obviamente eu caía num pranto convulsivo, pois me apiedava do "pobre senhor Ano Velho" que ia embora triste e solitário. Nessas horas minha mãe me carregava no colo dizendo que era só uma brincadeira, mas não me convencia. Eu dizia: "porque expulsar o senhor Ano Velho desse jeito? Não podemos apenas dar um tchauzinho e deixar ele ir em paz? Assim desse jeito ele vai embora triste e ele é velhinho, não se pode deixar os velhinhos tristes!". Também sentia uma grande raiva do "senhor Ano Novo" que chegava cheio de festas e glamour se sentindo a mais fabulosa das criaturas! Até hoje eu me emociono com a saída do "senhor Ano Velho" e a entrada do "senhor Ano Novo" por lembrar da ingenuidade das crianças e o quanto as palavras podem nos marcar. Nas passagens de ano procuro sempre agradecer ao "senhor Ano Velho" por tudo o que "ele" me deu com seus ensinamentos, aprendizados, muitas vezes difíceis de entender, mas gratificantes quando compreendidos. Também não amaldiçôo mais o "senhor Ano Novo", pelo contrário, lhe dou as boas vindas e coloco em suas mãos todos os melhores sentimentos, pois sei que um dia ele ficará velho, e terei de despedir-me dele também, afinal, até os anos envelhecem não é mesmo?! Compartilho com vocês esta parte de minha estória na esperança de que o "senhor Ano Novo" traga a todos muitas bênçãos, como sempre as trouxe para mim! E que o "senhor Ano Velho" continue semeando seus corações com as lembranças boas que, obviamente, "ele" deixou em todos nós! Grande beijo! Miriam Rose

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo Mimi!
Mais do que estória, uma reflexão.

Beijinhos