Acho que quando a gente cresce, não são somente as coisas que encolhem, mas junto com elas, encolhe a nossa infância. Encolhe aquela criança que fomos. Encolhe a nossa audácia em pensar, agir. Encolhe nosso ímpeto de descobrir coisas. Encolhe nossa vontade de buscar respostas para todas aquelas perguntas que não quiseram nos responder.Encolhe a nossa ousadia. Nossa busca pelo que queremos compreender. Encolhe junto a inocência! Ah! A inocência... Poder olhar um casal apaixonado se beijando e achar absolutamente normal... Sentar no colo dos adultos sem nem pensar que eles seriam capazes de tanta crueldade com as crianças...
Certa vez viajamos para Campos do Jordão e minha mãe comprou-me um pulôver de frio bem felpudo e quentinho cor de vinho... Se eu o usei foi uma vez só. Guardava-o para um momento especial, mas, o que é momento especial para uma criança? Certa tarde eu estava em casa e minha mãe tinha ido até a minha avó. Eu estava sozinha e me sentindo dona da situação, é claro! Nisso a campainha soou e eu fui verificar pela janela quem estava tocando. Era um menino da minha idade mais ou menos, uns 6 ou 7 anos, de camiseta e um shortinho. Ele era magricela e estava todo encolhido pois fazia muito frio. Perguntou-me se eu teria um pedaço de pão para ele. (Naquela época, um pedaço de pão era extremamente comum de se pedir e usavasse sómente para comer). Fiquei com muita pena e disse que eu não tinha um pedaço de pão. Então perguntei se ele estava com frio. Ele afirmou. Disse-lhe que esperasse um pouco e fui correndo para o meu quarto pois o "momento especial" chegara e peguei meu pulôver novinho. Desci saltitante as escadas e entreguei para aquele menino que o recebeu com uma cara de espanto e alegria ao mesmo tempo. Colocou-o imediatamente e eu perguntei se o frio tinha ido embora. Ele sorriu e disse que sim. "Que Deus te abençõe!" foi sua resposta, virou as costas e saiu feliz da vida. E Deus me abençôou mesmo. Isso chama-se compaixão. Onde ela está nos dis de hoje?
Quando minha mãe chegou, fui contar para ela de meu feito extraordinário e cheia de orgulho. Levei uma das maiores broncas da história de minha vida. "Você tem noção do quanto custou?" "Você não pode ficar dando qualquer coisa para essas pessoas" "Teu pai vai ficar uma fera!". Meu pai não ficou uma fera. Lembro que ele sorriu e disse para não fazer isso de novo. Acho que ele entendeu minha intenção infantil. E querem saber? Até hoje não me arrependo de ter dado aquele pulover para o menino.
Eu agradeço a Deus por ter deixado em mim uma parte daquela menina sardenta, com grandes olhos castanhos e cheia de imaginação. Não a deixei morrer. Ela renasce comigo a cada dia que amanhece. Hoje pintamos nossa sala e aquela menina voltou. Voltou empinando o pincel para pintar o rosto de meus filhos e depois fugir para não ser pintada... Claro que com 45 anos e eles na faixa dos 18 me pegaram rapidinho e fizeram de meu rosto uma aquerala amarela. Quer saber? ADOREI!
São momentos assim que ficarão em nossos corações. Nestas horas, nossas crianças tem que tomar conta de nossos corações... Elas devem resistir ao tempo... Elas foram nós. Seus perfumes ainda exalam de nossas almas, basta deixá-las surgir!
Um pouco de mim, de meus pensamentos, meus micos, minhas lembranças, minhas saudades, meu amores, meus erros e tudo com um pouco de poesia e humor. Esta sou eu: MIMIMA. Sejam todos bem vindos!
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domingo, 2 de agosto de 2009
Perfume das coisas
Hoje eu acordei com saudades! Saudades das coisas que não acontecem mais. Hoje acordei lembrando do porão da casa de Dna. Hélia, vizinha nossa, onde brincávamos junto com sua filha, a Sânscia. Era um porão enorme, mas fico pensando se hoje ele teria o mesmo tamanho. As coisas encolhem ou somos nós que crescemos? O que mais encolheu dentro de mim além daquele porão escuro, cheirando mofo, cheio de bagunça mas que eu amava ficar por horas simplesmente observando-o. Também tinha o meu porão. Lá ficavam minha bonecas, a lousa, a mesinha e cadeirinhas para tomar o chá da tarde, meus ursinhos, a vitrola do papai, uma pia de brinquedo para aprendermos a lavar louça (nunca aprendi), uma cama onde a Santa, minha segunda mãe dormia, uma tábua de passar roupa, várias quinquilharias de meu pai, e uma porta para acesso à garagem. Eu adorava aquele lugar! Passava minhas tardes brincando com meus bonecos, desenhando mapas estratégicos para invadir algum lugar potencialmente perigoso, mas que sempre conseguíamos vencer, pois éramos infalíveis. (eu e meus bonecos, claro!)
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