terça-feira, 9 de agosto de 2011

Orfãos de pai vivo!

Eu pago para não ter que entrar em uma briga. Odeio discutir, brigar. Não gosto e evito ao máximo qualquer situação que me obrigue e me desentender com alguém. Até aquelas ligações para operadoras de telefonia eu evito para não me aborrecer, pois eu realmente detesto brigar e sei que é quase que inevitável uma discussão quando se liga para um desses lugares.

Certa vez eu vi um pps que contava mais ou menos a seguinte história: Um casal dirigia a noite a caminho de uma festa e em determinado momento o marido que estava ao volante falou para a esposa: - Agora a gente vira a esquerda, ao que ela retrucou: - Não! É a direita! E ele contestou: - Não! É a esquerda mesmo. E seguiu na direção que ele achava ser a correta. Lá na frente, percebendo que havia cometido um erro, cobrou de sua esposa: - Se você tinha tanta certeza de que era a direita, porque não me impediu? Ao que ela respondeu: - Se eu insistisse você ficaria nervoso e brigaríamos, portanto eu optei por ser feliz ao invés de brigar com você!

Essa tem sido também minha opção desde minha separação. Eu sabia que se insistisse no pagamento das pensões, nós brigaríamos sempre e resolvi ser feliz. As crianças foram crescendo e eu fui me virando, aperta daqui, segura dali e vamos que vamos... Tendo arroz, feijão e ovo ta bom demais...

Eu e os meninos já passamos por situações muito difíceis do tipo ir fazer compras no hipermercado e descobrir que estava sem saldo na conta corrente, pois caíram cheques que não haviam sido contabilizados. Ou parcelar dois pares de tennis em 10 vezes porque os tennis dos meninos estavam em total estado de decomposição.

Lembro-me de uma vez que meu filho ficou doente e precisava de remédio. Eu tinha apenas R$ 30,00 e não podia gastar nada além disso, conseqüentemente, eu caminhei por quase dois quilômetros atrás de uma farmácia mais em conta para poder medicar o menino e economizar na condução.

Cheguei a ter tendinite no tornozelo em função de longuíssimas caminhadas para poupar alguns reais que seriam gastos caso eu utilizasse o transporte público.

Hoje eu vejo tudo isso com um orgulho muito grande. Sinto dentro de mim que fiz e estou fazendo a minha parte na formação desses dois homenzinhos que começam a caminhar com seus próprios pés.

O que infelizmente me corrói por dentro, é a indiferença que o pai desses meninos tem em relação a eles. Na metade do ano meu caçula, o Tiago, passou na FMU em biomedicina. Eu não tinha dinheiro para pagar sua matrícula e pedimos ao pai que prometeu arrumar esse dinheiro até junho. Atualmente estamos em agosto e não tivemos mais notícias dele nem para dizer que não teria como ajudar o filho. Óbvio que me virei... fiz um empréstimo e paguei a matrícula do menino.

Quando o Lucas esteve internado conforme eu descrevi em O dia em que minha alma emudeceu 1, o pai prometeu que quando ele saísse do hospital, pagaria natação para fortalecer o pulmão. Isso já vai pra 6 anos e até hoje o Lucas aguarda essa natação.

Se, ao menos, ele fosse um pai presente, que ligasse todas as semanas para saber como estão os meninos, mas nem isso! E ainda, as raríssimas vezes que ele liga, reclama que está doente ou ferrado de grana já para nos intimidar, ou seja. “Não estou bem e estou sem dinheiro, então não me peçam nada!”.

Aí, quando eu me estresso e escrevo que meus filhos são órfãos de pai vivo ele se ofende dizendo que nós só damos valor a ele pelo dinheiro que ele nunca tem?

Peraí! São 12 anos de separação... não são 12 meses, nem 12 semanas, são DOZE ANOS DE SEPARAÇÃO sem NUNCA, REPITO, NUNCA, ter contribuído mensalmente com nada e nem por isso nós o colocamos na cadeia. Nunca ligou para saber se o Lucas precisava de Combivent ou Miflonide (medicação que meu filho tem que tomar ininterruptamente para a asma). Quando liga no aniversário dos filhos reclama que os meninos não ligam para ele... por que será hein? Se eu fosse uma filha e tivesse um pai que não dá a mínima pra mim, provavelmente também não ligaria para falar com ele, concordam? Aliás, essa era uma grande reclamação dele quando éramos casados, a de que o pai (meu ex-sogro que Deus o tenha em bom lugar, pois era um homem decente!) não ligava para ele, ou seja, a vida se repete. A lei do retorno é implacável.

Não valorizo o quanto pesa! Valorizo o homem cujas sementes são regadas e cuidadas com carinho. Admiro o homem que tem comprometimento com seus filhos e comprometimento não significa dinheiro no bolso, mas amor nas atitudes. Amor de pai, presença de pai, consciência de pai! E infelizmente isso tudo lhe falta aos baldes...

A lei do retorno é implacável, eu já disse e a vida dará a ele as respostas que ele merece ter.

Desculpem o desabafo, mas eu precisava!