quinta-feira, 19 de maio de 2011

Homenagem a Arthur da Paz

Pessoal... já li muitos post maravilhosos, mas este, eu fiz questão de postar aqui. Leiam a história desse rapaz que consquistou meu coração: "Como me tornei Espírita".
Parabéns Arthur pela paz que vc transmitiu neste relato simples e tão cheio de amor!
Abraços!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O dia que minha alma emudedeu - Parte Final

As coisas caminhavam devagar, mas sempre em frente. O Lucas finalmente havia voltado para nós para a alegria de todos, inclusive de meus amigos da Prefeitura que comemoravam seu retorno. Se eu compartilhei notícias tão ruins com a Mamá, tinha que trocar notícias boas também. Mas sempre que ligava para ela, era uma troca de lágrimas, só que agora positivas. Agradecia sempre pelas orações que todos fizeram para meu filho e pedi que continuassem, afinal ele ainda estava hospitalizado. Sua cama começou a ficar inclinada, pois depois de muito tempo na posição horizontal, se fazia necessário começar a inclinar a cama para irrigação cerebral de sangue.
Percebia que ele tinha muito medo de ficar sem ar de novo. Estava sempre olhando os aparelhos com receio de voltar com a insuficiência respiratória. Percebi que ele não fazia a menor idéia do quanto demorou seu tratamento e que não tinha sido da noite para o dia como ele pensava. Contei-lhe que ele estava em coma há quase 10 dias. Já era dia 22 de junho e pedi que olhasse o calendário que tinha no leito. Ele arregalou os dois olhos! Não acreditou que já havia se passado tanto tempo. Expliquei que ele ficou em coma e que nesse ínterim ele foi tratado da asma, portanto, que ficasse tranqüilo afinal foi um tratamento longo, mas, com certeza, duradouro e que agora ele só melhoraria. Isso o tranqüilizou bastante e a mim também. Quando vemos nossos filhos tranqüilos, essa mesma tranqüilidade começa a fazer parte de nossa alma.
Naquele dia, tinha o Jogo da copa Brasil x Japão. Minha mãe ligou pedindo que o Lucas não visse a Copa, pois ela achava que ele havia ficado doente em virtude do nervoso que passou com o jogo contra a Croácia. Nunca consegui convencer ela de que não tinha nada a ver, mas desde aquela época as cornetas foram proibidas em casa. A preocupação de minha mãe com o próximo jogo do Brasil era clara. Ela pedia para não deixar ele ver o jogo, mas foi impossível! Mesmo assim, pedi ao meu filho que não se entusiasmasse muito, mas ele estava bastante tranqüilo e não se exaltou apesar dos quatro gols do Brasil contra o Japão. Aliás, foi engraçadíssimo ver toda a equipe de enfermagem dentro de um dos leitos que estava vago, assistindo o jogo sem poder gritar a cada gol que o Brasil fazia. Nós, eu e o Lucas, nos divertíamos, pois quando saía um gol só ouvíamos um grito GOoooooollll que diminuía consideravelmente de volume depois do “GO”! O cheiro de pipoca começou a invadir toda a UTI e senti muitas saudades de casa.
Nos dias que se seguiram, o Lucas começou a melhorar cada vez mais. Já ficava sentado na cama, mas ainda sentia tontura e não conseguia ficar em pé. Sempre que tentava levantar ele ficava branco que nem papel e tinha que se sentar. Aos poucos ele foi conseguindo ficar em pé com a ajuda dos enfermeiros e foi com o incentivo deles que meu filho recomeçou a andar. Um enfermeiro de cada lado e meu filho dando seus primeiros passos... Emocionante. Ele havia se esquecido de como se anda. Nunca pensei que fosse possível isso acontecer, mas vi que é possível sim, esquecer-se de como se anda. Meu filho colocava um pé bem a frente do outro o que o desequilibrava. Teve que aprender a colocar o pé a frente, mas também ao lado para não perder o equilíbrio. Aos poucos ele foi pegando o jeito da coisa.
O clima estava tão leve na UTI que comecei a aprontar das minhas, claro! Não é a toa que esta blog tem Mico como nome: O Lucas estava sentado na poltrona assistindo TV e eu no sofazinho fazendo companhia. Ele queria fazer xixi e, a toda poderosa mamãe, achou que seria muito fácil segurá-lo e levá-lo até o toilet no próprio leito da UTI, afinal eram apenas alguns passinhos e nada mais.
Meu filho ainda me alertou: “Mãe, tem certeza que você me agüenta?”, e eu: “Claro! Fica tranqüilo, só põe seus braços em volta do meu pescoço e deixa o resto comigo!” Foi uma das piores idéias de toda a minha vida! O Lucas colocou os braços em volta de meu pescoço e eu o levantei. A partir daí a gravidade fez o resto do trabalho. Conclusão: Eu, Lucas, Poltrona, Soro. sofazinho e tudo o mais que rodeava meu filho foi pro chão na velocidade da luz! Nunca vi tantos enfermeiros em toda a minha vida! Eles foram de uma agilidade fantástica! Óbvio que socorreram primeiro o Lucas! Depois de o virem em segurança que se lembraram da mãe idiota que estava estatelada no chão com cara de pamonha. Só lembro de ouvir os batimentos acelerados do meu filho denunciados pelo aparelho cardíaco fofoqueiro que ainda estava ligado a ele.
Tive que ouvir várias recomendações da equipe de enfermagem do tipo: “Não pode levantar ele sozinho, mãe! Tem que chamar a gente”; “Não faça mais isso, mãe!”, “Vocês podiam ter se machucado feio!”.... que ótimo! Isso serviu para eu e o Lucas darmos boas gargalhadas depois. No dia seguinte, finalmente meu filho foi liberado da UTI para um quarto no hospital.
Mais quatro dias em um quarto e finalmente ele teve alta. Hoje ele tem 20 anos, trabalha numa empresa como Assistente Administrativo, faz faculdade de Sistemas de Informação e é fera nisso! Continua usando a medicação preventiva da Asma, mas nunca mais teve que ir a um hospital por falta de ar. Anualmente ele visita seu médico, o mesmo que o tratou no hospital e sempre está melhor que no ano anterior. Apesar de toda a angústia que vivi naquela época, quando me falam: “Deve ter sido as piores férias da sua vida!”, eu respondo: “Na verdade, foram as melhores! Seriam as piores se ele não tivesse voltado comigo de lá!”. Beijos a todos!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

REVOLTA COM O BLOGSPOT!

Gente!!! Por favor, me digam se alguma vez na vida vocês tiveram um POST desaparecido? Faz uns 02 dias que não consigo acessar meu blog e hoje quando entrei, percebi que deletaram meu último post....ESTOU IRADA!!! MUITO IRADA! Fiquei a tarde inteira escrevendo aquele post. Publiquei e ainda compartilhei no facebook e hoje olha o que encontro:
QUE RAIVVVVVAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!
Já aconteceu isso com alguém??? Bjs
:-(
á

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O dia que minha alma emudeceu - parte 5

Ao ouvir a promessa do médico de que meu filho não morreria, só pude abraçá-lo e deixar vazar todas as lágrimas de alívio que eu poderia ter. O médico retribuiu meu abraço e aguardou pacientemente que eu parasse de soluçar. Falou-me que teria de fazer um procedimento de risco chamado broncoscopia com lavagem brônquica. O risco seria o fato de ter de molhar os brônquios para soltar as secreções que estariam colados neles. Poderia dar febre ou haver qualquer outra complicação, mas, se tudo desse certo, ele ficaria com o pulmão mais limpo e sua saturação aumentaria o suficiente para ele sair da linha limítrofe inferior.
Eu tinha a sensação de estar anestesiada. Sentia uma tranquilidade tão grande que nem as complicações provenientes da broncoscopia me afetaram. Aceitei todos os riscos, mas intimamente eu acreditava que nada faria mal ao meu filho e que tudo daria certo para ele.
Quando o médico se retirou, fui até a ante-sala ligar para meus pais só para dizer-lhes que o médico havia garantido que o Lucas não morreria. Meus pais choravam do outro lado da linha num misto de alegria e alívio. Minha mãe só dizia: "Viu filha? Eu disse que Santo Antonio olharia por ele! Graças a Deus!". Lógico que omiti os riscos da broncoscopia, mesmo porque, esses riscos não encontraram ecos em meu coração.
Voltei ao leito de meu filho e o beijei várias vezes dizendo: "Tá vendo filho? Logo, logo você voltará pra nós!". Com a alma tranquila, me dei o direito de comer alguma coisa e fui até a lanchonete do hospital fazer um lanche. Ao retornar ao leito, vi um folheto do hemocentro que necessitava de doadores de sangue. Pensei: "Por que não doar meu sangue já que recebi uma graça tão grande? Vou até lá!".
Nessas horas a gente descobre que Deus opera das maneiras mais estranhas, porém eficientes que existem. Aprontei-me para sair e ir doar sangue no hemocentro naquela mesma rua. Ao sair na ante-sala da UTI, uma senhora que sempre via por ali, mas que nunca havia conversado, puxou conversa comigo. Perguntou do "moço bonito" que estava no leito 6, se era meu filho, quantos anos tinha e ficou admiriada de saber que ele tinha 15 anos pois parecia ter uns 20.
Sentei-me a seu lado e perguntei porque estava la. Ela olhava a sobrinha de 19 anos que tinha um tumor cerebral. Havia operado mas estava em coma já fazia 3 meses. TRÊS MESES! Como a mãe daquela menina conseguia suportar essa dor? Meu filho estava há quase 10 dias e eu já estava enlouquecendo! Perguntei como elas conseguiam sobreviver com essa dor? A resposta foi muito simples: "AMOR! O amor nos dá tanta força que mal percebemos o quanto ficamos fracas!"
Disse que sua sobrinha parecia estar voltando do coma, mas que ainda era um caminho muito longo. Às vezes parecia responder a elas e às vezes não. Tinha horas que acompanhava com os olhos os movimentos, mas outras vezes não conseguia. Respondia com a cabeça algumas perguntas, mas outras ficava imóvel. Era uma luta diária. Hora a hora!
Contei rapidamente sobre meu filho me dando conta que existiam casos bem piores do que o dele. Falei-lhe que havia recebido o folheto do Hemocentro e que estava indo para doar sangue. Ela, então, me perguntou se meu filho também necessitava de sange, mas eu respondi que não. Foi quando ela me perguntou se eu iria doar sangue para alguem em especial e lhe disse que não, que só iria doar sangue para o banco de sangue. Ela me pediu então que doasse para sua sobrinha que precisava de doadores. Claro que concordei e fui ao hemocentro na certeza de que Deus havia preparado para que eu encontrasse essa senhora naquela hora e naquele momento.
A partir daí comecei a prestar mais atenção nos casos que faziam parte daquela UTI. Havia um moço, 23 anos que estava em coma há 2 anos e meio. Erro médico foi o que a mãe dele me disse. Não detalhou o assunto, mas tudo aconteceu por causa de uma anestesia mal dada. Um bebê que 6 meses. Uma criança de 1 ano e 8 meses. Nossa!
Haviam tantos casos cruéis lá dentro! Tantas histórias tristes de mães, pais, filhos, netos que doía o coração só de se pensar em passar por aquilo. Diante de tanto sofrimento alheio, nosso próprio sofrimento se torna, no mínimo suportável!
E foi assim que passei os demais dias de UTI, compartilhando lições de perseverança, amor, abnegação e força! No dia da broncoscopia meu filho foi levado logo cedo e aproveitei o dia para dar uma volta no hospital. Fui até a capela onde agradeci de coração por tantas bençãos. Depois fui até a farmácia comprar medicamentos para as dores nos pulsos e nos ombros que estavam insuportáveis. Parei na padaria e comi um baurú de outro mundo! Tomei um sorvete e liguei para várias pessoas que sempre queriam notícias de meu filho. Fui ao berçário ver os bebês novinhos que nasceram e pensei nessas vidinhas que começavam. Hoje eles devem ter por volta de 5 anos! Também aproveitei para conversar com o Tiago e compartilhar com ele as boas novas de seu irmão. Estava muito bem. Lógico que estava preocupada com o procedimento médico, mas nada que me alterasse a ponto de perder o controle sobre os acontecimentos. Estava muito mais serena e confiante.
E, como era de se esperar, meu filho voltou da broncoscopia com a saturação mais alta. Já não fazia aquele chiado no peito quando respirava, mas a febre se mantinha firme. O médico disse que provavelmente a febre cederia em um ou dois dias.
Minha mãe já não o visitava mais. Disse que era muito difícil vê-lo naquele estado de forma que eu sempre ligava para dar as notícias de seu estado. Meu pai, como sempre, lembrou-me da escola do Lucas e que eu deveria dar uma satisfação sobre a ausência de meu filho às aulas. Meu pai, apesar de toda a dor, sempre foi muito correto em tudo e sempre me fazia enxergar o lado racional de tudo. Assim sendo, no dia seguinte, peguei o metrô e o ônibus novamente para ir até a escola esclarecer a situação do Lucas.
Todos na escola ficaram entristecidos com a notícia, mas a diretora afirmou que ele não teria problemas em recuperar a matéria e que ela falaria com os professores que provavelemente dariam trabalhos para que o Lucas não perdesse notas.
Aproveitei para passar em casa e ver pela última vez os meus gatinhos (isso ainda me emociona muito)! Me despedi de todos e arrumei a cama do Lucas finalmente depois de tantos dias. Dei um jeito nas coisas e rumei ao hospital novamente.
Quando entrei no leito senti um clima agradável! Pude até sentir um perfume no ar! Via sua saturação que já estava berando os 90% e isso me alegrou bastante. A febre, no entanto, persistia. Minutos depois entrou o médico dizendo que meu filho estava reagindo muito bem e que eu não me preocupasse com a febre. Afirmou ainda que se tudo continuasse assim, no dia seguinte começariam a acorda-lo.
Eu fiquei eufórica! Eufórica mesmo! Saí para a ante sala e fiquei andando de um lado para o outro com um sorriso de orelha a orelha. Quem estava lá provavelmente não entendeu absolutamente nada, pois ali não era um local feliz propriamente dito, concordam? Já havia feito amigos e pude compartilhar com eles a minha alegria que vinha sempre acompanhada de lágrimas.
Novamente liguei para meus pais dando as boas novas o que os encheu de felicidade! Comecei a ficar ansiosa para que o dia seguinte chegasse e pudesse ver os olhos de meu filho que já não via a dias! No dia seguinte, logo pela manhã o médico entrou. Examinou ele e disse que começariam a aplicar a medicação para que ele voltasse do coma. Eu não saí do lado dele nem por um milésimo de segundo. Acompanhei todo o procedimento e fiquei atenta para algum sinal de que meu filho estava voltando a consciência.
Amarraram suas mãos pois ele podia querer puxar o tubo de oxigenação, a sonda nasográstrica e até mesmo o cateter do pescoço. Vê-lo com as mãos amarradas me incomodou um pouco, é lógico, mas sabia que era para seu bem e que toda a equipe de médicos e de enfermeiros estavam fazendo de tudo para que ele ficasse bem.
Logo de início não percebi nada, mas alguns minutos depois percebi que ele começava a mexer a cabeça e os dedos das mãos! Claro que chorei! Alguns minutos a mais e ele começava a dar sinais de que entendia o que os enfermeiros perguntavam fazendo micro sinais afirmativos e negativos com a cabeça! Fiquei ali plantada ao seu lado vendo cada progresso que havia em seu despertar até ver que seus olhos começavam a abrir lentamente. Tentei segurar a todo o custo minhas lágrimas pois não queria que ele me visse chorando. A garganta doía muito pelo esforço, mas consegui. Ele acordou! Disse-lhe para ficar tranquilo que estava tudo bem!
Também pedi que não tentasse movimentar as mãos, pois elas estavam imobilizadas para evitar que ele tirasse alguma coisa do lugar. Ele me olhava e fazia sinais afirmativos com a cabeça. Pedi também que não falasse, pois estava intubado. Dizia que ele já estava bem e que sua respiração havia normalizado, afinal, na cabecinha dele, só havia passado uma noite, ou seja, ele havia dormido e acordado, só isso! Nem imaginava que já haviam se passado 10 dias de coma. Ele ficou tranquilo. Estava grogue, mas entendia bem o que falávamos para ele.
O médico me disse que assim que ele estivesse totalmente desperto que seria extubado, ou seja, retirariam o tubo dele, mas que só poderiam fazer isso com ele acordado. Não tenho palavras para traduzir a minha alegria. Já podia ver os olhos de meu filho e em breve eu também ouviria sua voz! Fantástico!
Fui conversando com, o Lucas que foi despertando cada vez mais. Contava para ele de sua saturação, de como estava melhor de quando deu entrada no hospital, falava da seleção brasileira da copa, da felicidade que sentia em ver que ele estava bem, ou seja, fiquei falando com ele o tempo todo para que despertasse o mais rápido possível.
Mais ou menos umas três horas depois de acordar, a equipe entrou no leito para extuba-lo. Saí e pedido deles e fiquei na ante-sala tomando café e tagarelando com os amigos que havia feito por lá! Todos compartilhavam a minha alegria. Quando se está numa UTI, vive-se sobre um véu de sombra espessa. Mas quando surge alguma luzinha, ela realmente ilumina todo o ambiente. É como uma necessidade! Hoje percebo que as alegrias compartilhadas na UTI, não só as minhas, mas as dos demais pacientes que aconteciam, eram extremamente comemoradas com sinceridade! Uma união absurda que se faz dentro daquela unidade.
Entrei no leito e vi meu filho sem o tubo, mas mantinha a sonda nasogástrica e o cateter no percoço. Estava ansiosíssima para ouvir sua voz. Óbvio que sua voz estava absurdamente fraca. Ele apenas sussurava. Quase não se ouviam suas palavras. Mesmo assim, fiz uma estripulia.
Queria muito que meu filho falasse com meus pais e liguei de meu celular para eles. Quando atenderam eu pedi um minuto e passei para o Lucas. Ele sussurou: "Oi vó!"..... depois falou "to bem sim.", percebi que o Lucas começou a se emocionar então tirei o telefone dele e falei com minha mãe. Ela chorava de alegria! Meu pai também. Falei com eles que a voz do neto estava fraca, pois tinham acabado de tirar o tubo, mas que ele estava bem! Na mesma tarde tiraram a sondanasogástrica. Então tudo começou a melhorar!..... e muito!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O dia que minha alma emudeceu - Parte 4

O prognóstico do Lucas não era dos melhores. Não havia melhora alguma, pelo contrário, uma febre desconhecida começava a tomar conta dele. Ele estava com 38,9 graus de febre e as compressas de água fria começaram a fazer parte de minha rotina dentro da UTI. Colocávamos compressas na testa e nas axilas. Percebia que ele estava com febre, pois suas bochechas ficavam rosadas. Eu ficava mentalizando as orações ininterruptamente.
Numa determinada tarde, uma das enfermeiras que cuidava dele, depois de medir a febre e constatar que ela não havia diminuído, olhou bem firme em meus olhos e disse: "É mãe! A senhora tem que ser forte!". Aquilo gelou todos os poros do meu
corpo. As lágrimas (companheiras inseparáveis) começaram a surgir novamente. Foi inevitável lembrar do meu caçula. Pensei no Tiago. Não podia deixar que ele continuasse alheio a real situação de seu irmão.
Conversei com o Lucas, aliás, eu sempre conversava com o Lucas. Mesmo estando em coma, eu lhe falava constantemente contando as novidades da copa, a preocupação de seus avós, as pessoas que o visitavam, meu amigos da Prefeitura que desejavam melhoras, sempre! Sempre falava com meu flho como se ele estivesse totalmente acordado. Falei para ele que precisaria ir falar com o Tiago. Fazia tempo que não falava com ele e precisava conversar um pouco, mas que voltaria no mesmo dia para ficar com ele.
Aproveitei a visita de meu pai e peguei uma carona até a casa de mamãe onde estava o Tiago. Peguei meu filho e fomos juntos até minha casa onde pude conversar com mais calma sobre a situação do Lucas.
Falei detalhadamente tudo que havia acontecido desde que entramos no hospital. Contei das
várias inalações, da injeção na veia, da ida para a UTI, da máscara que soprava ar para dentro do pulmão dele, na necessidade de entubar devido a insuficiência respiratória, do coma, de seu estado grave e de toda a tentativa da equipe médica de fazê-lo reagir.
.. Seus olhos começaram a ficar brilhantes e percebi que algumas lágrimas quiseram cair. Abracei e pedi que rezasse por seu irmão. Ele não me disse nada! Só assentiu com a cabeça. Depois desse dia, ele começou e nunca mais parou de roer unhas.
Aproveitei esse tempo para me despedir de meus gatinhos que tinham sido condenados a viver em outro lar, pois uma pessoa com Asma não pode conviver com gatos. Fiz um post especial sobre isso em "Homenagem aos meus três gatos".
Matei minha saudade de casa, dos gatinhos, de meu quarto até chegar ao quarto de meus filhos e ver a cama do Lucas, ainda desfeita pela pressa com que saímos de lá o que me fez temer nunca mais vê-lo sobre ela dormindo.
Afastei esse pensamento o mais rápido possível e voltei a realidade. Abracei o Tiago e pedi que fosse forte. Que eu estaria no hospital, mas também estaria com o pensamento nele e que qualquer coisa que precisasse, me ligasse que eu retornaria, uma vez que na UTI não podíamos ficar com o celular ligado.
Resolvi retornar ao hospital de ônibus e metrô, para não passar pela mesma angústia do trânsito como da última vez que voltei ao hospital. Andar de metrô e ônibus me fez um bem danado! Foi ótimo ver outras pessoas. Óbvio que eu ainda estava com o coração na mão pensando na saúde do Lucas, mas passear de ônibus e metrô meio que me aliviou um pouco da pressão da UTI.
Cheguei no hospital mais leve e me permiti ainda tomar um café na padaria antes de voltar ao leito do meu filho.
Chegando lá eu o vi e o enchi de beijos como de costume. Sua febre ainda estava alta, a oxigenação também ainda estava baixa, mas, por incrível que pareça, eu estava leve! Não conseguia entender o porque de me sentir daquela forma. Uma mansidão havia tomado conta de meu coração e, apesar de todas as notícias ruins, eu me encontrava completamente tranquila.
Estranhei esse meu comportamento até lembrar que eu havia lido alguma coisa sobre isso no livro "O Poder Infinito da Oração". Comecei a folhear o livro na busca de uma explicação plausível sobre essa calma inexplicável que se apoderava de mim. Foi quando eu achei o seguinte trecho: "Quando você sente um alívio interior, aquela paz e alegria que se sucedem ao dia tormentoso, aquele sentimento de vitória sobre alguma coisa, aquela sensação de que já foi atendido, isto já é sinal de que, realmente, sua prece foi atendida. Neste caso, não precisa mais rezar sobre o assunto. Já está alcançado."
Pela primeira vez em muitos dias eu chorava, mas era de alegria. Algo me dizia que tudo ia dar certo. Ele iria melhorar. Fui para a ante-sala da UTI e liguei para minha mãe contando dessa minha alegria. Ela chorou. Ela já sabia muito antes de mim que o Lucas ficaria curado.
Naquele dia continuei rezando através da escrita. Eu nunca parava de escrever pois aquilo me dava um alento muito grande ao meu coração. Foi quando pedi a Deus que me enviasse um sinal de que o Lucas ficaria bom e que esse sinal viesse na forma de alguma melhora, mesmo que mínima: A febre abaixar um pouco, nem que fosse um pauzinho do termômetro, a oxigenação aumentar nem que fosse um dígito ou qualquer outro sinal de melhora seria minha certeza de que ele melhoraria.
O dia seguinte amanheceu com as mesmas notícias. Aliás a febre havia aumentado. A oxigenação estava na mesma e a pressão ainda estava muito baixa. Coração muito acelerado, enfim, nenhum sinal de melhora, mas aquilo não me afetou. Estava misteriosamente tranquila. Inexplicavelmente tranquila diante de um quadro tão ruim. Só que algo aconteceu nesse dia.
Pela manhã mesmo, o médico entrou para examiná-lo. Viu todos os aparelhos, as medições, auscultou o pulmão, enfim, fez o que de costume, então me chamou para sentar com ele.
Foi quando ele disse:
- Mãe! O estado do Lucas é grave e acho que vamos ter que tomar medidas mais sérias em relação a sua dificuldade respiratória. Mas uma coisa eu garanto a você: "O LUCAS NÃO VAI MORRER! Ele só vai demorar um pouco mais para ficar bom, MAS NÃO VAI FALECER, ok? EU PROMETO ISSO A VOCÊ!"
Entendem agora porque eu digo que aprendi a ter fé?
Continua.

domingo, 8 de maio de 2011

O dia que minha alma emudeceu - Parte 3

O caminho de carro até o hospital foi um dos mais difíceis já percorridos em toda a minha vida! Tinha pavor do que iria encontrar quando entrasse no leito da UTI. Meus pais foram em silêncio comigo e o trânsito me matava! Rezava desesperadamente pedindo a Deus que ficasse com ele até eu chegar e intimamente pedia perdão ao meu filho por tê-lo deixado sozinho naquela UTI fria e desumana! Demoramos uns 45 minutos para chegar lá e entrei feito um furacão pela UTI para ver meu filho.
Ele estava mais sedado, totalmente inerte! Disseram que ele era muito forte e resistia bravamente à sedação, então tiveram que aumentá-la para que fizesse mais efeito. Abracei-o e beijei seu rosto várias vezes pedindo que me perdoasse por deixá-lo sozinho e que jamais eu faria isso de novo. Fiquei ali ao seu lado enquanto meus pais o visitavam. Primeiro a minha mãe. Ela entrou, segurou sua mão e alisou seu cabelo. Dizia pra ele que Santo Antonio Estava tomando conta dele. Disse pra mim que ele parecia mais tranqüilo e eu falei-lhe sobre a sedação. Ela ficoumais tranqüila também. Em seguida entrou meu pai. Ele não falava nada. Só acariciava os cabelos do neto e me olhava como que pedindo para dizer-lhe que tudo ficaria bem. E eu lhe disse. "Olha pai! Ele está bem! Tá tranquilo. Vai dar tudo certo, viu?" ... Ele me olhava com seus olhinhos azuis brilhantes e cheios de lágrimas e só assentia com a cabeça. Foi assim que ele saiu da UTI. Em seguida voltaram para casa destruídos por ver seu neto naquele estado.
Naquele dia meu celular praticamente não parou de tocar. Todos da Prefeitura me ligavam para saber de meu filho. Até os assessores do Prefeito recém empossado no lugar do ex-Prefeito Serra ligavam-me se colocando a disposição para ajudar. Só lhes pedi que autorizassem minhas férias a partir daquele dia para que pudesse ficar com meu filho.
A Mamá foi uma das pessoas que me ligou e foi com ela que extravasei meu sofrimento. Eu chorava feito criança e ela chorava comigo do outro lado da linha. Ambas unidas em uma só lágrima. Pedia incessantemente que rezasse por meu filho e ela dizia-me que colocaria seu nome do livro de orações do centro que freqüentava. Agradeci aos prantos e consegui me sentir um pouco melhor com todo o carinho dela.
Passei o dia respondendo chamadas de celulares e acariciando o rosto de meu filho totalmente insconsciente. Sentia-me impotente diante de toda aquela situação e algo dentro de mim clamava por uma luz ou por algo que me fizesse sentir um pouco mais útil ali dentro daquele leito só vendo enfermeiros atenciosos e prestativos entrarem e sairem com agulhas, gases, pranchetas e exames.
O dia demorou um século para passar. À noite meus pais voltaram para ver o neto e minha mãe disse que meu pai não queria mais entrar. Era muito para ele ver seu neto naquele estado. Compreendi perfeitamente e não insisti. Tentava passar para eles notícias boas. Chegava a inventá-las para que não ficassem tão deprimidos, mas eu via que não conseguia convencer ninguém de uma melhora muito longe de ser atingida.
Em determinado momento meu pai chegou perto de mim e tive a sensação de que ele me falaria algo que eu não queria ouvir, pois seus olhos me diziam que ele também não queria ter de falar aquilo, mas a razão deve assumir o controle de nossas vidas de vez em quando, sendo assim, me disse se não seria o caso de avisar o pai dele sobre seu estado de saúde. Eu me separei de meu ex-marido em 1999 e ele nunca foi uma figura muito presente em nossas vidas.
Optei por deixar pra lá, afinal discutir com ele não me faria mais feliz e nem faria feliz aos nossos filhos.

Assenti com a cabeça e vi as lágrimas ressurgirem em meu rosto. Pensei da necessidade do pai estar presente naquele instante e não pude evitar imaginar que poderia ser uma da últimas vezes que o pai dele o veria com vida. Pensei também no Tiago que estava alheio a tudo isso e que não podia deixá-lo assim. Ele teria de ser preparado para o pior. Não tinha com quem conversar sobre isso o que me deixava muito isolada emocionalmente.

Tomei fôlego e liguei para o pai dele, meu ex-marido, que ficou desnorteado. Ele sempre foi muito ausente e acho que a culpa o aniquilou naquele instante. Disse que iria ver nosso filho no dia seguinte mesmo porque já eram mais de 21h da noite e não poderia ir para lá naquela hora. Voltei para o leito junto a meu filho.

Só podia entrar uma pessoa, fora o acompanhante, portanto várias vezes eu tive de sair para que as pessoas pudessem visitar o Lucas.

Pensei em Deus. Ele estava ali, com certeza. Mas eu me sentia muito falha com Ele. Algo me dizia que eu precisava fazer algo mais além de chorar e rezar por força e cura!

Meus pais foram embora e me vi novamente sozinha com meu filho. Senti uma necessidade enorme de escrever, mas não tinha nem lápis, nem caneta e muito menos papel. Liguei para meus pais que já estavam em casa e pedi que me trouxessem meu diário, meu terço bizantino, minha bíblia, meu "Evangelho Segundo o Espiritismo", o livro "O Poder Infinito da Oração" do Padre Lauro Trevisan e umas canetas.

Eu precisava escrever! Eu precisava colocar pra fora toda aquela aflição! Minha mãe me ensinava as orações e eu as repetia ininterruptamente: "Lucas é filho de Deus prefeito curado pela graça e misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo! Obrigada, obrigada, obrigada", "Jesus, Cura meu filho Lucas", "Obrigada Jesus pela Cura de meu filho Lucas", "Jesus, obrigada por fortalecer meu filho Lucas", "Jesus, eu creio, mas aumentai a minha fé". E assim sucessivamente eu mentalizava essas palavras ao lado de meu filho.

Continuava a pensar no Tiago e no quanto eu estava deixando-o de lado diante de tudo que estava acontecendo. Senti-me horrível, pois estava renegando-o a segundo plano e não era justo para com ele. O que poderia estar passando em sua cabecinha? Ele tinha apenas 14 anos. Tinha acabado de completar 14 anos, era um menino que de repente se viu sozinho sem a mãe e sem o irmão e sem nenhuma notícia de nenhum dos dois. Um peso a mais baixou em meu coração e novamente me vi rezando e pedindo que Deus me iluminasse e me dissesse o que eu deveria fazer. Naquela noite comecei a sentir dores no ombro. Mal podia mexer o ombro e acreditei que fosse pela má posição no sofá em que dormia (ou tentava dormir) durante a noite. Semanas depois descobri que eram os primeiros sinais da Artrite Reumatóide que me segue até hoje! Psicossomaticamente a artrite é auto-punição. Uma necessidade de se punir por uma culpa incontrolável que toma conta de nossa psiquê. Óbvio que eu me sentia culpada. Óbvio que eu me incriminava por todas as mazelas de meu filho que estava em coma e pelo outro que estava alheio a tudo e "deixado a Deus dará". O peso da culpa me oprimia de tal forma que a dor do ombro de certa forma fazia com que eu me sentisse um pouco melhor. Era o castigo merecido que chegava ao meu inconsciente denegrido. Mais uma noite ao lado do corpo de meu filho tão debilitado. Ele emagrecia a olhos vistos. Era só alimentado pela sondanasográstica que enviava um liquido com nutrientes suficientes para mantê-lo vivo. Às vezes eu me beliscava para ver se aquilo não era apenas um pesadelo! E foi pensando no Tiago que terminei minha noite no 3º dia de meu filho na UTI.

Amanheceu e percebi que ainda estava ao lado de meu filho, como se fosse possível estar longe dele.

Estava ansiosa pelas canetas e pelo diário. Escrever se tornou vital para minha saúde mental. Quando eles chegaram peguei a Bíblia e a abri aleatóriamente e li o que minha vista encontrou: Corintios 2 12:10 "Porque quando estou fraco, então sou forte." Aquele versículo acertou minha alma em cheio! Comecei a conseguir enxergar alguma luz, muito tênue mas era uma luz, no final do túnel.Foram páginas, páginas e mais páginas escritas direto para Jesus! Eu devorava as orações dos livros, da Bíblia e do Evangelho Segundo o Espiritismo.

E escrevia as orações como se estivesse escrevendo uma carta para Jesus. Passava horas e mais horas escrevendo orações, salmos, pedidos, versículos e tudo o mais que me fizesse estar mais perto de Deus. E foi assim que aprendi a ter fé em Deus, pois foi nessa época que Ele me respondeu da forma mais linda que Deus poderia responder.

Continua...

sábado, 7 de maio de 2011

O dia que minha alma emudeceu - Parte 2

Entrei na UTI e fui direto ao leito onde se encontrava meu filho. Estava cheio de fios ligados nele e os sons dos batimentos cardíacos indicavam que seu coração estava acelerado. Ele ofegante olhou para mim e sorriu. Aproximei-me dele e segurei sua mão. Meu pai estava junto e também segurou a mão do neto sorrindo sem muitas palavras, pois estava prestes a chorar.

Logo entrou um médico que prescreveu uma máscara que forçava o ar para dentro do pulmão do meu filho e ele ficou com essa máscara a noite inteira.

Meu pai ficou pouco tempo e logo se despediu com os olhos marejados. Deu-me um forte abraço e seguiu para casa onde eu deveria estar comemorando o aniversário de mamãe, mas que agora já não tinha mais nenhuma festa.

Dentro da UTI descobri que o nível de saturação de oxigênio do Lucas estava muito baixo. Girava em torno de 85%. Abaixo disso corria-se risco de insuficiência respiratória e o aparelho sempre apitava quando a saturação diminuia.

A noite inteira fiquei ao lado dele que tentava respirar inutilmente. A mascara só o deixava mais nervoso, mas continuava valente e tentava me passar uma calma jamais sentida! Não dormiu durante a noite. Teve apenas breves cochilos que eram interrompidos pela oxigenação fraca e quase nula de seus pulmões. Não vi o dia amanhecer e só fui perceber isso quando houve a troca da equipe. Percebi também que meu filho começava a ficar com os lábios escuros e as pontas dos dedos roxeadas. A saturação começou a gritar, pois estava em 79% e o médico entrou na sala para examiná-lo pedindo que eu saísse. Fiquei no corredor com o coração despedaçado imaginando o que ele me diria quando terminasse de examinar meu filho.

Quando saiu, o médico se aproximou e disse que meu filho estava tendo uma insuficiência respiratória e que ele seria entubado.

Minhas pernas falsearam e o médico me segurou. Lembro de ter visto o rosto do meu filho segundos antes de desfalecer. Não lembro muito bem como, mas sei que estava na enfermaria sentada com um copo de água nas mãos. A enfermeira, muito gentil, tentava a todo custo me tranquilizar dizendo que meu filho não sentiria nada e que a entubação era feita com ele sedado e que seria melhor para ele e que eu tivesse fé e mais uma série de outras palavras que não faziam nenhum sentido para mim naquele momento.

Quis vê-lo, mas não permitiram uma vez que estavam preparando-o pois ele tinha sido induzido ao coma! Lágrimas e mais lágrimas desciam livremente pela minha face. Chegavam a arder de tão quentes e doídas que elas ficaram! Fui até a ante sala da UTI onde ficavam os parentes que iriam visitar seus familiares, mas não via ninguém, apesar da sala cheia. Fui até o vitrô e olhei para a rua. Já havia amanhecido e eu nem tinha dado conta. Fiquei ali inerte pensando em como dizer para meus pais que seu neto estava em coma e entubado. Fiquei pensando em como dizer isso ao meu filho Tiago que estava na casa de minha mãe acreditando que o Lucas só estava tendo uma crise de bronquite qualquer e que em breve estaria em casa. Como dizer para mim mesma que insistia em não acreditar que aquilo tudo fosse real quando eu rezava para que fosse apenas um dos piores pesadelos de minha vida! As lágrimas desciam soltas. Chegavam a queimar meu rosto. Eram quase 7 horas e eu pedia para que o tempo parasse até eu conseguir colocar as idéias em ordem. Lá fora as pessoas caminhavam apressadas totalmente alheias ao meu sofrimento. Pensei por um momento que gostaria de ser uma daquelas pessoas.

Não sei quanto tempo fiquei ali parada olhando o nada pelo virtô do hospital. Então alguém tocou em meu ombro e me ofereceu um café. Não sei quem ela era, mas ela havia visto algo que a maioria das pessoas não enxergam. Ela havia visto a minha dor. Só me ofereceu um café. Não perguntou nada, não especulou nada e não me obrigou a falar nada. Sentei-me ao seu lado e tomei aquele café que de alguma forma revigorou um pouco minhas energias já tão escassas.

Agradeci a ela que voltou-me um sorriso e foi-se embora. Nunca mais a vi. Chego a pensar se não foi um anjo que Deus colocou em meu caminho para me fazer acordar daquela inércia em que me encontrava.

Chamaram na UTI informando que já podia ver meu filho. Respirei fundo e cobrei de mim mesma a força necessária para seguir em frente. Entrei no leito e o vi. Ele já não sorria mais pra mim. De sua boca saia um tubo que o ajudava a respirar. De seu nariz, saía outro tubo. Seus olhos estavam meio abertos mas não me viam. Ele estava totalmente inconsciente. Havia um cateter em seu pescoço. Ele não me via, não me ouvia, não se mexia. Ele estava em coma! Quando eu pensava que já não haveria mais lágrimas que pudessem rolar de meus olhos, elas surgiam mais abundantes ainda! Molhei o lençol que cobria meu filho de tanto chorar!

Voltei para a ante-sala de onde liguei para meus pais avisando do coma e da entubação. Só pude ouvir os soluços do outro lado da linha. Não haviam palavras que expressassem a dor que eles viviam naquele instante. Pensei o quanto era injusto fazer meus pais passarem por tanto sofrimento. Minha mãe só dizia: "Ele vai melhorar filha! Santo Antonio vai por a mão sobre ele!". Sua fé em Santo Antonio sempre me emocionou e por um instante eu gostaria de ter essa fé inabalável como ela. Mas descobri que a Fé a gente aprende a ter, e eu aprendi. Eles quiseram ir para o hospital, mas lhes pedi que não fizessem isso, pois não tinha mais nada que pudéssemos fazer a não ser rezar por ele.

Eu estava robotizada. Andava de um lado para o outro do leito. Sentava, levantava, andava, sentava e assim sucessivamente rezando sem parar até anoitecer. Era dia 15/06/2006. Feriado de Corpus Christi. Lembrei que no dia seguinte eu deveria ir trabalhar. Passei um torpedo para a Cristiane, minha amiga que trabalhava comigo, avisando da situação. Não conseguiria falar, por isso optei pelo torpedo. Mas logo em seguida ela me ligou perguntando o que havia acontecido e narrei a ela em meio a soluços. Perguntou-me se podia fazer alguma coisa pra ajudar eu eu lhe pedi apenas que rezasse e que pedisse a todos na Prefeitura que rezassem também por meu filho.

Minutos depois chegaram meus pais e minha irmã. Se apiedaram de meu estado. Não havia comido nada a não se tomado café o dia inteiro, mas não tinha fome.

Estava despenteada, desarrumada, sem maquigem e não havia tomado banho. Eu parecia um zumbi.

Fiquei na ante-sala enquanto eles visitaram meu filho. Seria sofrimento demais ve-los verem meu filho entubado. Voltaram de lá massacrados pelo sofrimento. Insistiram para que eu voltasse para casa com eles para poder descansar um pouco. Eu não queria ir. Tinha medo de ir embora e não ver mais meu filho vivo, mas não disse isso a eles. A enfermeira disse que eu deveria ir embora e descansar para quando meu filho acordasse eu estivesse bem. Foi o único argumento que me fez ceder e foi assim que deixei meu filho pela única e ultima vez naquela UTI sozinho.

Saí de lá amparada pelo meu cunhado e pela minha irmã. Só fazia o que me mandavam: "Senta, Levanta, Descansa, come" era apenas um robozinho sem vontade, sem expressão. Conforme o carro se afastava do hospital eu ia me sentindo mais fraca.

Cheguei em casa de mamãe e pediram uma pizza. Meu cunhado cortou meu pedaço, pois eu tremia demais para faze-lo. Logo em seguida me levaram para a cama e dormi a base de calmantes.

Por volta de umas 07h00 acordei pulando da cama para ligar no hospital e ter notícias de meu filho. Atendeu na UTI um rapaz eu lhe disse: "Por favor! Sou a mãe do Lucas. Queria saber como ele está?". Ele respondeu: "O estado dele é muito grave!"

Foi assim que voltei ao hospital com a certeza de nunca mais deixá-lo dormir sozinho uma noite que fosse a mais.

Continua.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O dia que minha alma emudeceu! - Parte 1

Estou protelando esta postagem há exatos 3 anos. Desde que criei este blog prometi a mim mesma que iria postar o pior momento e também o melhor de minha vida e que faria isso para não esquecer (como se fosse possível) todo o sofrimento que vivi no ano de 2006 e que só quem tem filho poderá compreender essa dor lancinante que corta nossa alma ao meio. Sempre que vivo momentos difíceis, volto minhas lembranças para aquele fatídico 14/06/2006 onde tudo que pensei saber da vida, me mostrou o quão pequena eu sou diante dos mistérios que esta jornada que fazemos por este planeta pode nos aguardar!

Dessa forma, estou reunindo os pedaços das minhas lembranças e colocando-as neste post para que um dia meus netos, bisnetos ou qualquer outra pessoa possa ler e entender o significado destas palavras: "mistérios da fé".

13/06/2006 - Primeiro jogo da seleção brasileira para disputa da copa do mundo. Brasil x Croácia. A prefeitura nos liberou mais cedo e fui direto para casa buscar meus filhos para assistirmos o jogo na casa de minha mãe regado a bolo de queijadinha (uma delícia!) e pipoca. Meu pai havia comprado umas cornetas que os meninos assopraram com todo vigor no primeiro e único gol do Brasil. O Lucas com a camisa azul da seleção e o Tiago com a camisa amarela. Eu estava com uma misto de verde, amarelo e azul. Adoramos a copa do mundo e nessas épocas vestimos mesmo a camisa da seleção e de nosso país!

Terminado o jogo o que foi uma certa decepção, pois esperávamos no mínimo uns 3 x 0 em cima da Croácia, voltamos pra casa pelo menos aliviados por termos ganho a partida.

No dia seguinte, era aniversário de minha mãe e iríamos todos a noite em sua casa comemorar seus 66 aninhos de vida. Logo pela manhã, o Lucas pediu para não ir a escola, pois estava com falta de ar. Dei uma inalação nele e fui trabalhar. O Lucas começou a ter asma logo depois que voltamos de Juquitiba e eu achei que pudesse ter sido o baque da mudança de um ar tão puro como os das montanhas de lá com o ar pesado e poluído daqui de São Paulo, mas enfim, ele não tinha sempre falta de ar, era uma vez ou outra e aquilo sinceramente não me preocupou muito.

Fiquei monitorando ele de meu trabalho para ver se ainda estava ruim. Ele tomava Simbicort para prevenir as crises e Combivent quando estivesse em crise. Mesmo com o uso dos medicamentos não houve melhora na falta de ar e pedi para sair mais cedo e voltar para casa cuidar de meu filho, afinal tínhamos a festinha de mamãe e queria que ele estivesse bom para podermos ir pra lá sem preocupações.

Porém, no decorrer decorrer da tarde ele não melhorou e por volta de umas 18 horas, começou a queixar de dor no peito. Eu que já estava preocupada com seu estado, comecei a entrar em pânico, pois uma dor no peito não me parecia ser um prognóstico bom. Avisei minha mãe que teria de levá-lo ao hospital e meu pai se ofereceu para me acompanhar. Parei na casa deles para pegar meu pai e fui dirigindo em direção ao hospital com meu coração aos saltos.

Logo na Av. água Fria, encostei o espelho retrovisor de meu carro em outro carro e meu pai acabou assumindo a direção, pois percebeu meu nervosismo. No caminho meu filho encostava o rosto no enconsto do banco do passageiro e me dizia: - Fica calma mãe! Eu tô bem, viu? Aquele olhar preocupado de meu filho com minha preocupação fazia com que meu coração encolhesse ainda mais!

Chegando ao hospital ele foi atendido como "caso de risco" (coisa que fiquei sabendo depois), e logo entrou para passar pelo médico.

Foi, então, encaminhado para inalação. Depois, outra inalação, depois um remédio na veia, e mais tarde, mais uma inalação.

Depois de todo esse tratamento o médico pediu ao meu filho que ele falasse seu nome completo: LUCAS BRANCHI EVANS SALVIA, mas ele não conseguiu. Meu filho não tinha fôlego para dizer seu próprio nome de uma única vez.

O médico então me chamou no canto e disse que iria colocá-lo na UTI, pois seu caso era realmente grave. Troquei um olhar meio que perdido com meu pai que se afastou de mim. Percebi que ele tinha ido chorar longe de mim e do Lucas. Naquele momento eu não sentia mais o chão. Não sentia mais meus batimentos cardíacos e não sentia nem vontade de chorar. Somente um vazio intenso, frio e gélido percorria minha corrente sanguínea. Olhei para meu filho que bravamente lutava por um pouco de ar e pensei na inocência dele que nem ao menos sabia o que era uma UTI. Aproximei-me dele e disse-lhe que ele teria que ir para um lugar onde seria monitorado 24 horas e que lá ele estaria seguro, mas que eu não poderia ficar com ele, mas que estaria por perto caso ele precisasse de mim. Entre um fôlego e outro meu filho repetiu: - Não se preocupa mãe! Eu estou bem e vou ficar bem. Novamente senti meu coração miudinho... agora era minha respiração que faltava.

A enfermeira se aproximou de mim pedindo que eu providenciasse a internação de meu filho. Antes de ir, fui ver meu pai que estava fora do prédio tentando respirar tanto quanto eu. Não houve palavras, só o abraço forte e a esperança de que tudo passasse rapidamente. Eu segurava bravamente as lágrimas, pois não queria mostrar fraqueza ao meu pai. Nesse minuto tocou o celular dele. Era minha mãe. Ele passou o telefone para mim. Coloquei o aparelho no ouvido e só pude murmurar - "Mãe!"... Ouvi o choro contínuo de minha mãe e permiti que as lágrimas represadas até aquele momento caíssem sobre meu rosto. Só lembro de pedir a ela que rezasse muito! Pensei em sua festa de aniversário, no presente que eu não havia dado e no futuro que não parecia existir mais para mim naquele momento. Com o coração rasgado, o espírito despedaçado e a alma muda desci até o setor de internação para tratar das papeladas e lá tive mais uma surpresa!

A atendente me informou que não havia vagas e que eu deveria tentar em outro hospital, pois a UTI estava lotada! Meu único pensamento naquele instante foi: "Meu filho aguentará uma transferência?". E foi com este pensamento que voltei para a Emergência do hospital. No caminho eu rezei: "Senhor! Você me deu esse menino e eu o estou criando da melhor forma que eu posso, mas hoje, eu não posso fazer mais nada, portanto Deus, eu o coloco em suas mãos! Só Você Deus, saberá p que será melhor agora para meu filho! Toma ele em Teu colo Senhor! Cuida de meu filho pra mim! Obrigada!"

Cheguei na emergência com o rosto quente pelas lágrimas que teimavam em cair. Olhei meu filho ofegante e segurei em sua mão. Apenas sorri. Ele sorriu em resposta. O médico se aproximou e disse-lhe que a UTI estava lotada e que meu filho deveria ir para outro hospital. O médico respirou fundo e disse que veria algum hospital próximo que pudesse recebê-lo. Então tocou meu ombro tentando me confortar um pouco. Olhei para meu pai e vi seus olhinhos azuis vermelhos. Tive tanta pena dele! De sua dor! De nossa dor!

Voltei para perto de meu filho e, tentando parecer o mais natural possível, disse-lhe que ele deveria passear de ambulância, pois ele seria encaminhado a outro hospital e que seria divertido. Ele só sorriu, já não conseguia mais falar!

Segurei em sua mão e pensei em Deus novamente. Repeti mentalmente: "Deus, ele está aqui! Segura ele em Seu colo Senhor!"

Nesse instante uma enfermeira se aproximou dizendo que iria vagar um leito na UTI e que a transferência não seria mais necessária.

Apertei a mão de meu filho e fui avisar meu pai que, apesar da angustia, também ficou um pouco mais tranqüilo. Aguardamos mais alguns minutos até que a ida de meu filho à UTI fosse finalizada. Foi por volta da 01h30 da madrugada que meu filho deu entrada a UTI. Perguntei várias vezes se eu poderia me despedir dele depois que entrasse na UTI apesar de afirmarem que sim, várias vezes!

Ficou eu e meu pai na ante-sala da UTI esperando autorização para nos despedirmos de meu filho. Meu coração era um misto de alegria por ele permanecer no hospital e tristeza e medo de deixá-lo sozinho, pois não queria imaginar nunca mais vê-lo sorrir para mim. E Foi dentro da UTI que me informaram que eu poderia ficar como sua acompanhante, pois ele era menor de idade (15 anos) e aquela UTI era pediátrica! Mais uma vez lembrei de Deus e pensei: "Obrigada Senhor, mas continue com ele em Seu colo, por favor!".

Aquele foi só o início de um suplício que descreverei no próximo post, pois as lágrimas ainda teimam em descer, mesmo depois de 5 anos do acontecido. Peço a paciência e o apoio de vocês! Grande beijo!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Regando um docinho!

Às vezes eu me pergunto se quando eu nasci Deus jogou a forma fora, pois acho que eu sou única. A ÚNICA PESSOA MAIS DISTRAÍDA DA FACE DA TERRA!
Cheguei hoje para trabalhar e encontrei sobre a minha mesa de trabalho um lindo vasinho de flores! Um mimo! Um vasinho com florzinhas azuis... Achei lindo!!! Lindo mesmo! Tão lindinho que tirei uma foto para vocês.
A princípio, pensei em regar o bichinho para que se mantivesse bonito, mas mudei de idéia ao perceber que as flores eram artificiais.
Passadas algumas horas minha colega pergunta se eu gostei do "bolinho"....... (?)
Bolinho? Mas que bolinho?
Pois dá pra acreditar que esse vasinho fofo de florinhas azuis é um bolinho? E que as flores azuis são comestíveis? E que as
folhinhas verdes também?
Agora... dá pra acreditar que esta que vos escreve queria regar o vasinho? E que quando me contaram que era de comer eu achei que tivessem tirando um sarro da minha cara?
Agora, pessoal! Fala sério? Não é um vasinho de flores PERFEITO? Isso é obra da Anna Vocci. Dá uma passadinha lá e confira as coisas pra lá de lindas que essa bela mocinha cheia de imaginação faz!
Aproveitem para ver o Ovo de Páscoa! QUE SHOW A PARTE!
Anna! Desculpe por quase regar seu vasinho, mas é perfeito demais!
Tive dó de comer, mas tenho que admitir que o que tem de bonito tem de gostoso! Ô coisa pra lá de boa sô!
Beijos pra você Anna Vocci! Lindo seu blog! Lindos seus doces! Artesanato de açúcar! Parabéns!
Segue minha homenagem para essa moça linda, criativa, esforçada e super caprichosa!
Bjs a todos!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mundinho!

Hoje eu descobri que cada pontinho vermelho no mundinho aí do lado significa uma pessoa que viu meu blog! E eu que achava que era defeito no aplicativo... besta né?
Já estava a ponto de tirar meu mundinho daí quando resolvi traduzir as recomendações em inglês do site de onde eu o tirei! Graças a Deus pelo menos para isso serviu meu hum ano de União Cultural Brasil e Estados Unidos! Good night friends!!!