terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Quem é realmente um louco?

Infelizmente trabalhar na Prefeitura, por muitas vezes, causa situações constrangedoras. Nós lidamos com inúmeras pessoas que fazem solicitações absurdas como querer dinheiro emprestado, ajuda para ir assistir Luciano Huck ou Eliana, cirurgia para retirada de um chip no cérebro colocado por alienígenas e outras coisas do gênero. Como vocês podem perceber, não são prioridades para uma cidade feito São Paulo, porém todas as pessoas que nos ligam merecem ser atendidas com educação e respeito, apesar dos motivos absurdos. Estando acostumada com solicitações escabrosas não costumo assustar-me com mais nada, porém, nem sempre o que pensamos ser loucura, realmente o é, infelizmente. Certo dia, por volta das 15:45hs, entrou em contado no gabinete um rapaz que eu atendi e, evidentemente apavorado, gritava ao telefone dificultando entender o que ele dizia, ou que estava tentando dizer. As unicas palavras que eu conseguia distinguir era buraco, metrô, pinheiros, assessor, Stela. Com muito custo eu consegui decifrar suas frases que eram intercortadas pelo pânico: "abriu um buraco!!"... ele dizia... "Metrô pinheiros"..."Pessoas cairam".... "Chamei os bombeiros"... "Ninguem veio até agora".... "Sou assessor da Stela"..."Me passe pra ela". Imediatamente passei para a secretária da Stela dizendo: "Amiga, tem um louco na linha dizendo sobre um buraco no metrô em pinheiros. Diz ser assessor da Stela, posso te passar?". Ela consentiu e passei a ligação me desligando totalmente do assunto e até achando graça. Buraco no metrô Pinheiros? Nem tem metrô lá em Pinheiros!!! Que absurdo". E foi nesse clima de tranquilidade que voltei para casa. Lá chegando, minha primeira prioridade foi tirar os sapatos, sentar no sofá e ligar a tv. Pelo resto da noite eu não conseguia sair do sofá! O que vi na telinha corroeu todos meus sentimentos de tranquilidade trazidos até aquele momento! O "louco" que atendi falara a verdade! Havia uma cratera de mais ou menos 80 metros de diâmetro na região de Pinheiros onde se construía uma das estações da linha 4 do metrô. Sete ou oito pessoas, não me lembro bem, morreram nessa catástrofe. Fiquei pensando no desespero do meu amigo no outro lado da linha que estava em frente daquela cena e compreendi perfeitamente seu desespero e suas palavras inter-cortadas. Senti-me minúscula. Por um momento agradeci a Deus por ter me permitido lucidez suficiente em atendê-lo com educação acatando sua solicitação de falar com a Secretária Adjunta Stela e ter transferido a ligação logo em seguida. Esse desastre, serviu para me mostrar quanto pequenos somos em relação às outras pessoas. Como podemos julgá-los de forma tão prepotente? Vidas se perderam no que eu acreditei ser uma tolice. Nunca imaginei que aquela pessoa no outro lado da linha falasse a verdade, mas, graças à Deus, cumpri meu dever e repassei a ligação, mesmo tendo dúvidas de sua veracidade. Se eu não tivesse agido dessa forma, provavelmente hoje eu amargaria uma culpa maior do que a que já sinto por ter duvidado daquela pessoa. Não importa quem você atenda. Seja cortês, gentil, educado! O mínimo que você ganha é a consciência livre e o dever cumprido, mesmo porque, até os loucos merecem nosso respeito, concordam? Beijos

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