terça-feira, 11 de agosto de 2009

Parando de fumar...

Em 2002 nem se cogitava a possibilidade de uma lei anti fumo em São Paulo. Havia sim, alguns restaurantes que se dividiam em "fumantes" e "não fumantes", mas nunca foi além disso. Eu fumava naquela época. Não era de fumar muito mas um maço para mim durava 1 dia e meio, mais ou menos, (Tá certo! Eu também não fumava pouco) e só de pensar que o maço estava acabando eu já entrava em verdadeiro pânico. Tinha que sair correndo para comprar mais um maço, pois a possibilidade de ficar sem cigarro me deixava desesperada. Naquela época eu tinha motivos mil para fumar. Havia voltado de Juquitiba faziam dois anos. Estava desempregada e com dois meninos para criar. Prestava todos os concursos públicos que existiam e vivia estudando para conseguir passar em algum. Estava com tendinite no tornozelo, NO TORNOZELO, ACREDITAM? O que me impedia de fazer minhas caminhadas que eu tanto gostava. Vivia estressada! Tinha dois filhos que exigiam coisas de mim que eu não podia dar o que aumentava a minha irritação e, consequentemente, diminuia a minha auto estima! Então eu fumava! Fumava! Fumava! Não podia atender um telefone que eu acendia um cigarro, colocava o cinzeiro na mesinha e ficava conversando e fumando feito uma louca! Eu fazia um curso em um centro espírita e eles falavam sobre o mal que fazia o cigarro, mas eu pouco me importava. Continuava fumando, afinal eu morreria mesmo algum dia e quando isso acontecesse eu me preocuparia em prestar contas sobre o fumo. E o tempo foi passando. Meu passatempo predileto era fumar e tomar café. Acordava, tomava um café e fumava. Preparava o café dos meninos depois me sentava na sala e fumava. Ligava a tv e fumava. Fazia o almoço com o cigarrinho do lado. Assistia as novelas fumando. Lia algum livro fumando. Antes de dormir fumava o "último" cigarro do dia (isso se eu não acordasse de madrugada, é claro!) e assim sucessivamente, dia após dia. Meu stress cada vez mais alto.
Um belo dia, assistindo o fantástico, apareceu uma reportagem onde o Dr. Drauzio Varella falava sobre o cigarro e o mal que ele fazia para os pulmões. Mostrou então o pulmão de um fumante totalmente preto e disforme.
Quando meus filhos viram isso, vieram desesperadamente pedindo para que eu parasse de fumar. Eles falavam : "Mãe! Pára! Por favor! Olha como vai ficar seu pulmão!" e eu abanava a cabeça negativamente. Eles insistiam "Mãe! Pára! Por favor!". E eu dizia que não estava em condições de largar o cigarro, pois estava muito nervosa. Mas eles não desistiram: "Mãe! Pela gente! Deixa esse negócio aí! Olha só o mal que faz! Por favor! Se você morrer o que vai ser de nós dois? Pára de fumar mãe. Pelo amor de Deus! Olha o que você está fazendo com seu pulmão! Por favor mãe! Pára de fumar! Pára vai?!" Como eu já estava ficando de saco cheio com sua insistência respondi num grito: "QUANDO EU CONSEGUIR UM EMPREGO E COMEÇAR A TRABALHAR EU PARO, TÁ?". Eles sossegaram e responderam: "Promete?", eu irritada retruquei: "PROMETO! QUE SACO!".
Nunca mais tocou-se nesse assunto até janeiro de 2003 quando recebi minha convocação para trabalhar no HSPM. Quando recebi o telegrama eu fiquei tão feliz que fui logo contar para meus filhos e qual não foi a minha surpresa quando ao contar para eles, os dois me disseram: "Agora você vai ter que cumprir a promessa!"
Eu já nem lembrava da droga da promessa que eu tinha feito! "Que promessa?", "A de parar de fumar", responderam com um sorriso enorme de vitória no rosto. Minha expressão deve ter sido de tanta incredulidade diante do que havia ouvido que meus filhos retrucaram: "Você sempre fala que quando se promete algo, deve-se cumprir!" e aquele sorrisinho idiota em seus rostos me aniquilou. Fiquei absolutamente sem palavras. Parar de fumar? Isso não estava em meus planos. Mas o dois foram tão enfáticos em suas palavras que não me deu outra alternativa senão calar a boca e pensar num jeito de me safar da situação. Imaginação à solta comecei a inventar argumentos para adiar minha promessa. Disse-lhes que eu só havia sido convocada, portanto não valeria ainda. Eu teria que parar de fumar quando começasse a trabalhar e aquilo era só uma convocação. Eles aceitaram com um muxoxo, mas não tiveram outra alternativa. Foi quase um mês de exames médicos para estar apta a exercer minha função de assistente administrativo no HSPM, e nesse interim eu fumava feito uma condenada no corredor da morte.
Finalmente foi informada da data em que eu iniciaria minhas atividades no Hospital e seria dia 10/02/2003. Fiquei dividida entre estar feliz e estar triste, pois meus filhos pareciam uma sombra me rodeando para saber se eu cumpriria a promessa. Nunca imaginei que eles tivessem gravado no fundo do âmago de seus seres aquelas estúpidas palavrinhas que eu havia dito a alguns meses atrás.... maldito Drauzio Varella!
No domingo anterior eu fumei desesperadamente. Eu acendia um cigarro atrás do outro. Só de pensar que no dia seguinte eu não poderia mais fumar, a vontade aumentava. Não conseguia dormir de tanta ansiedade. Devia ser umas 2h30 da madrugada quando eu adormeci não antes de fumar o ultimo cigarro. Logo pela manhã, às 05h00 para ser específica, pois eu entrava às 07h00 no hospital, peguei minha cigarreira com o maço de cigarros dentro, meu isqueiro e escrevi um bilhete para os meus filhos dizendo assim: "Promessa cumprida. Podem jogar fora a cigarreira, o cigarro e o isqueiro. Parei de fumar." Deixei tudo sobre a mesa da cozinha e parti para meu primeiro dia no Hospital do Servidor Público Municipal. Metade de minha alma estava lá também junto com a cigarreira, é lógico! E uma imensa vontade de me atirar na Av. Mazzei debaixo de um ônibus. Vou ser sincera. Durante o dia eu não senti a mínima vontade de fumar. Comprava aquelas balinhas tic-tac extra forte e colocava-as na boca sempre que sentia vontade de fumar, mas foram muito poucas as vezes. Mas durante a noite! Admito que entrei em depressão na primeira semana. Durante a noite eu mastigava palitos, cenouras, balas e qualquer outra coisa que eu pudesse. Tomava café aos baldes! Roía todas as pobres unhas de minhas mãos. Não atendia telefone em hipótese nenhuma, para não sentir vontade de fumar. O ápice da crise de abstinência se deu quando meu filho, ao me ver tomando um golinho de café, mencionou inocentemente: "É mãe! Agora você precisa é deixar de tomar café!". A minha reação foi extraordinariamente desproporcional ao que deveria ser. Eu olhei para ele e mencionei aos prantos: "Você quer acabar comigo, né? Você quer me matar! Já não basta o sofrimento que estou passando (drama!). Já não basta o esforço desumano a que estou me submetendo por vocês e essa ridícula promessa que eu fui OBRIGADA a fazer! Vocês ainda querem mais! Querem me ver arrastando no chão! Não basta meu sofrimento! Tem que ter sangue! Vocês me odeiam! O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO? ALGUÉM PODE ME DIZER?". O Lucas arregalou seus dois olhos e sussurrou: "foi brincadeira, mãe!"
Naquela semana, para minha infelicidade, acabou a luz no prédio e tivemos que ficar a luz de velas. Nessa noite adivinhem quem vai fazer uma visitinha em meu ap? Minha irmã e meu cunhado, ambos fumantes INVETERADOS. Sentaram-se na sala e acenderam seus cigarros. Sob a luz das velas eu via as fumaças de seus cigarros subindo e desaparecendo no ar. Aquele cheiro de cigarro atiçava meus sentidos e eu comecei a me contorcer feito uma lesma atingida por sal. Meus filhos me olhavam com os olhos esbugalhados, pois eles sabiam que eu estava me esforçando para cumprir o prometido, mas que aquilo também já era demais! Até que um deles falou: "Tia, sabe da novidade? Minha mãe parou de fumar!". Eu o agradeci com os olhos. Minha irmã e meu cunhado não sabiam o que fazer com o cigarro. Chegou a ser cômico! Eles levantavam as mãos na tentativa de afastá-los de mim. Meu cunhado foi até o vitrô, minha irmã ficava com o braço estendido até que eles resolveram ir embora. Eu amo demais a minha irmã! Mas aquela não foi uma boa hora para ela fazer uma visitinha no meu ap. Finalmente a primeira semana passou e o inferno diminuiu. Na segunda semana eu já nem sentia mais vontade de fumar, mas mantinha minhas balinhas tic-tac por perto para qualquer eventual recaída. Na verdade até hoje, 6 anos depois, eu ainda ando com as balinhas na bolsa. Elas foram minhas companheiras e confidentes naquela semana fatídica e as mantenho comigo sempre. Hoje é lógico, agradeço muito aos meus filhos por terem me obrigado fazer aquela promessa e me orgulho por ter dentro de mim aquele ensinamento que aprendi com meus pais de sempre cumprir o que se promete, seja a quem for, ou o que for. Cumpra-a! Seu coração ficará aliviado e seus filhos aprenderão o valor que podem ter suas palavras quando sinceras! Ah! Esqueci... aqui vai meu agradecimento especial ao Dr. Drauzio Varella, pois sem ele, nada disso teria acontecido! Valeu Doutor!

Um comentário:

Bєtн мoηtєiяo disse...

ACHO ÓÓÓÓÓÓÓÓTIMA esta sua atitude!!!
Já pensou no massacre do SERRA....elétrico?????kkkkk
Bjs Amiga mtas saudades.