segunda-feira, 9 de maio de 2011

O dia que minha alma emudeceu - Parte 4

O prognóstico do Lucas não era dos melhores. Não havia melhora alguma, pelo contrário, uma febre desconhecida começava a tomar conta dele. Ele estava com 38,9 graus de febre e as compressas de água fria começaram a fazer parte de minha rotina dentro da UTI. Colocávamos compressas na testa e nas axilas. Percebia que ele estava com febre, pois suas bochechas ficavam rosadas. Eu ficava mentalizando as orações ininterruptamente.
Numa determinada tarde, uma das enfermeiras que cuidava dele, depois de medir a febre e constatar que ela não havia diminuído, olhou bem firme em meus olhos e disse: "É mãe! A senhora tem que ser forte!". Aquilo gelou todos os poros do meu
corpo. As lágrimas (companheiras inseparáveis) começaram a surgir novamente. Foi inevitável lembrar do meu caçula. Pensei no Tiago. Não podia deixar que ele continuasse alheio a real situação de seu irmão.
Conversei com o Lucas, aliás, eu sempre conversava com o Lucas. Mesmo estando em coma, eu lhe falava constantemente contando as novidades da copa, a preocupação de seus avós, as pessoas que o visitavam, meu amigos da Prefeitura que desejavam melhoras, sempre! Sempre falava com meu flho como se ele estivesse totalmente acordado. Falei para ele que precisaria ir falar com o Tiago. Fazia tempo que não falava com ele e precisava conversar um pouco, mas que voltaria no mesmo dia para ficar com ele.
Aproveitei a visita de meu pai e peguei uma carona até a casa de mamãe onde estava o Tiago. Peguei meu filho e fomos juntos até minha casa onde pude conversar com mais calma sobre a situação do Lucas.
Falei detalhadamente tudo que havia acontecido desde que entramos no hospital. Contei das
várias inalações, da injeção na veia, da ida para a UTI, da máscara que soprava ar para dentro do pulmão dele, na necessidade de entubar devido a insuficiência respiratória, do coma, de seu estado grave e de toda a tentativa da equipe médica de fazê-lo reagir.
.. Seus olhos começaram a ficar brilhantes e percebi que algumas lágrimas quiseram cair. Abracei e pedi que rezasse por seu irmão. Ele não me disse nada! Só assentiu com a cabeça. Depois desse dia, ele começou e nunca mais parou de roer unhas.
Aproveitei esse tempo para me despedir de meus gatinhos que tinham sido condenados a viver em outro lar, pois uma pessoa com Asma não pode conviver com gatos. Fiz um post especial sobre isso em "Homenagem aos meus três gatos".
Matei minha saudade de casa, dos gatinhos, de meu quarto até chegar ao quarto de meus filhos e ver a cama do Lucas, ainda desfeita pela pressa com que saímos de lá o que me fez temer nunca mais vê-lo sobre ela dormindo.
Afastei esse pensamento o mais rápido possível e voltei a realidade. Abracei o Tiago e pedi que fosse forte. Que eu estaria no hospital, mas também estaria com o pensamento nele e que qualquer coisa que precisasse, me ligasse que eu retornaria, uma vez que na UTI não podíamos ficar com o celular ligado.
Resolvi retornar ao hospital de ônibus e metrô, para não passar pela mesma angústia do trânsito como da última vez que voltei ao hospital. Andar de metrô e ônibus me fez um bem danado! Foi ótimo ver outras pessoas. Óbvio que eu ainda estava com o coração na mão pensando na saúde do Lucas, mas passear de ônibus e metrô meio que me aliviou um pouco da pressão da UTI.
Cheguei no hospital mais leve e me permiti ainda tomar um café na padaria antes de voltar ao leito do meu filho.
Chegando lá eu o vi e o enchi de beijos como de costume. Sua febre ainda estava alta, a oxigenação também ainda estava baixa, mas, por incrível que pareça, eu estava leve! Não conseguia entender o porque de me sentir daquela forma. Uma mansidão havia tomado conta de meu coração e, apesar de todas as notícias ruins, eu me encontrava completamente tranquila.
Estranhei esse meu comportamento até lembrar que eu havia lido alguma coisa sobre isso no livro "O Poder Infinito da Oração". Comecei a folhear o livro na busca de uma explicação plausível sobre essa calma inexplicável que se apoderava de mim. Foi quando eu achei o seguinte trecho: "Quando você sente um alívio interior, aquela paz e alegria que se sucedem ao dia tormentoso, aquele sentimento de vitória sobre alguma coisa, aquela sensação de que já foi atendido, isto já é sinal de que, realmente, sua prece foi atendida. Neste caso, não precisa mais rezar sobre o assunto. Já está alcançado."
Pela primeira vez em muitos dias eu chorava, mas era de alegria. Algo me dizia que tudo ia dar certo. Ele iria melhorar. Fui para a ante-sala da UTI e liguei para minha mãe contando dessa minha alegria. Ela chorou. Ela já sabia muito antes de mim que o Lucas ficaria curado.
Naquele dia continuei rezando através da escrita. Eu nunca parava de escrever pois aquilo me dava um alento muito grande ao meu coração. Foi quando pedi a Deus que me enviasse um sinal de que o Lucas ficaria bom e que esse sinal viesse na forma de alguma melhora, mesmo que mínima: A febre abaixar um pouco, nem que fosse um pauzinho do termômetro, a oxigenação aumentar nem que fosse um dígito ou qualquer outro sinal de melhora seria minha certeza de que ele melhoraria.
O dia seguinte amanheceu com as mesmas notícias. Aliás a febre havia aumentado. A oxigenação estava na mesma e a pressão ainda estava muito baixa. Coração muito acelerado, enfim, nenhum sinal de melhora, mas aquilo não me afetou. Estava misteriosamente tranquila. Inexplicavelmente tranquila diante de um quadro tão ruim. Só que algo aconteceu nesse dia.
Pela manhã mesmo, o médico entrou para examiná-lo. Viu todos os aparelhos, as medições, auscultou o pulmão, enfim, fez o que de costume, então me chamou para sentar com ele.
Foi quando ele disse:
- Mãe! O estado do Lucas é grave e acho que vamos ter que tomar medidas mais sérias em relação a sua dificuldade respiratória. Mas uma coisa eu garanto a você: "O LUCAS NÃO VAI MORRER! Ele só vai demorar um pouco mais para ficar bom, MAS NÃO VAI FALECER, ok? EU PROMETO ISSO A VOCÊ!"
Entendem agora porque eu digo que aprendi a ter fé?
Continua.

5 comentários:

chica disse...

Nossa, essa frase deve ter sido maravilhosa de ouvir...

Mesmo que demorasee, ficaria bem!!

Que legal! beijos,chica

Simone Audrei disse...

Estou acompanhando seu dilema post a post, anciosa por um desfecho feliz.
Éh!... Ser mãe de verdade não é nada fácil, pequenos problemas já nos dilaceram o coração, imagine um da dimensão do seu... tento me colocar no seu lugar para ter uma vaga idéia do que você passou... que sufoco!
Bj. Fique com Deus.

Aparecida Miriam disse...

Miriam, me conta uma coisa: coração de mãe será feito de que material? Mulher, o teu é forte viu? Quantas postagens maravilhosas e quanto exemplo viu? Beijocas no coração e boa semana! Ahhh obrigada por se sentir tão bem no meu cantinho! Isso tb compartilho com o teu! Bjocas!

Anônimo disse...

http://niverdeamigos.blogspot.com/2011/05/amanha-tem-aniversario.html

Iram Matias disse...

Chorei ao ler esse seu post, pois me lembrou muito o que eu ja havia passado, como conto no meu blog.

Vou ler agora os outros.
Beijos

Estou ansiosa!

beijos